Como os aplicativos podem contribuir para o controle de pandemias

Nos últimos meses, vários pesquisadores dedicaram quase que integralmente a pesquisar e a aprender sobre essa nova doença causada pelo coronavírus (COVID-19) e pensando sobre o que será necessário para derrotar esta e futuras ameaças de uma pandemia. O que será necessário para que uma segunda onda de infecção seja evitada? Um ponto crucial seria o desenvolvimento de melhores maneiras de rastrear os contatos recentes de indivíduos que deram positivo para o agente causador da doença – nesse caso, um novo coronavírus altamente infeccioso.

Devido à falta de opções terapêuticas, as medidas de contenção para a COVID-19 ainda se baseiam em bloqueios, distanciamento social e quarentena.  O impacto social e econômico causado pela disseminação dos bloqueios são severos. Indivíduos com baixa renda podem ter capacidade limitada de permanecer em casa e apoio às pessoas em quarentena requer recursos. As empresas perderão a confiança, causando ciclos de feedback negativo na economia. Os impactos psicológicos podem ser duradouros. Dessa forma, o rastreamento de contato digital poderia desempenhar um papel importante para evitar ou flexibilizar esses bloqueios.

O rastreamento tradicional envolve uma equipe de profissionais de saúde que conversam com as pessoas por telefone ou mesmo presencialmente. Esse processo metódico e demorado geralmente é medido em dias e pode se estender até semanas. E em situações complexas, necessitando de vários contatos. Mas alguns pesquisadores agora estão propondo aproveitar a tecnologia para tentar fazer o rastreamento de contatos muito mais rápido, talvez em apenas algumas horas.

Com isso, um grupo de pesquisadores britânicos da Universidade de Oxford, iniciou suas análises usando dados publicados anteriormente sobre surtos de COVID-19 na China, Cingapura e a bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess. Com foco na prevenção, os pesquisadores compararam as diferentes rotas de transmissão, inclusive de pessoas com e sem sintomas da infecção.

Os pesquisadores estimaram que entre um terço e metade de todas as transmissões vieram de pessoas assintomáticas durante esse período de incubação. Além disso, assumindo que os sintomas finalmente surgiram e uma pessoa infectada foi testada e recebeu um diagnóstico COVID-19, os profissionais de saúde precisariam de pelo menos vários dias para realizar o rastreamento de contato pelos meios tradicionais. Até então, eles teriam poucas chances de se antecipar ao surto isolando os contatos da pessoa infectada para diminuir sua taxa de transmissão. Quando examinaram a situação na China, os pesquisadores descobriram que os dados disponíveis mostram uma correlação entre a implantação de aplicativos de rastreamento de contatos de smartphones e o surgimento do que parece ser a supressão sustentada da infecção por COVID-19. Suas análises mostraram que o mesmo se aplicava à Coréia do Sul, onde os dados coletados por meio de um aplicativo para smartphone eram usados para recomendar a quarentena.

O aplicativo pode oferecer benefícios para a sociedade e para os indivíduos, reduzindo o número de casos e também permitindo que as pessoas continuem suas vidas de maneira informada, segura e socialmente responsável. Por outro lado os pesquisadores britânicos reconheceram que o rastreamento digital apresenta alguns problemas éticos, legais e sociais, levantando sérias preocupações sobre a segurança dos dados e a privacidade das informações pessoais.

Em seu novo artigo, a equipe de Oxford, que incluiu um bioeticista, defende o aumento do diálogo social sobre a melhor forma de empregar o rastreamento digital de maneira a beneficiar a saúde humana. Esta é uma discussão de longo alcance, com implicações muito além dos tempos de pandemia. Embora a equipe tenha analisado os dados de rastreamento digital do COVID-19, os algoritmos que direcionam esses aplicativos podem ser adaptados para rastrear a propagação de outras doenças infecciosas comuns, como por exemplo a gripe.

REFERÊNCIAS:

  1. https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/09/be-covid-08-final-2.pdf Acessado em 12 de abril de 2020.
  2. https://directorsblog.nih.gov/2020/04/09/can-smart-phone-apps-help-beat-pandemics/ Acessado em 13 de abril de 2020.
  3. Quantifying SARS-CoV-2 transmission suggests epidemic control with digital contact tracing. Ferretti L, Wymant C, Kendall M, Zhao L, Nurtay A, Abeler-Dörner L, Parker M, Bonsall D, Fraser C. Science. 2020 Mar 31. [Epub ahead of print] Acessado em 13 de abril de 2020.
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