As evidências científicas de que a amamentação é a melhor forma de alimentar a criança pequena se acumulam a cada ano, e as autoridades de saúde recomendam sua implementação através de políticas e ações que previnam o desmame precoce. Pesquisas mostram que receber o leite materno protege a criança contra o sobrepeso e a obesidade desde a infância até a fase adulta. Isso ocorre, pois a leptina, um hormônio presente no leite materno ajuda a regular o metabolismo energético, ou seja, a transformação dos alimentos em energia e seu armazenamento no corpo do bebê. Além da proteção do bebê, a mãe também se beneficia, pois, amamentar diminui o risco de a mulher desenvolver alguns tipos de cânceres entre outros benefícios.
Sabe-se que há uma relação positiva entre amamentar e apresentar menos doenças como o câncer de mama, certos cânceres ovarianos e certas fraturas ósseas, especialmente por osteoporose. Indaga-se também sobre o efeito da amamentação no menor risco de morte por artrite reumatóide. Muitos estudos foram publicados mostrando como a amamentação se relaciona à amenorréia pós-parto e ao consequente maior espaçamento intergestacional. Outros benefícios para a mulher que amamenta são o retorno ao peso pré-gestacional mais precocemente e o menor sangramento uterino pós-parto devido à involução uterina mais rápida provocada pela maior liberação de ocitocina.
E mais um estudo foi publicado, este mês no JAMA Oncology, que analisou a associação entre a amamentação e o risco de câncer de ovário. Os mecanismos biológicos através dos quais a amamentação pode reduzir o risco de câncer de ovário ainda não são bem conhecidos. No momento da análise, as idades médias foram de 57,4 anos para mulheres com câncer de ovário e 56,4 anos para mulheres no grupo controle. Entre os controles, a prevalência de amamentação variou de 41% a 93% entre os estudos. Na análise multivariada, a amamentação versus a não amamentação foi associada a um risco significativamente reduzido de câncer de ovário invasivo, bem como a diminuição do risco de tumores de ovário borderline. Dentre os tumores invasivos, a associação de redução de risco foi positiva para os carcinomas serosos de alto grau, endometrióide e de células claras.
A principal hipótese até o momento se baseia na supressão da ovulação durante a amamentação, inibindo a divisão e a proliferação celular epitelial e reduzindo a oportunidade de iniciar ou promover a carcinogênese. Esse processo pode ter maior importância nos primeiros meses após o parto, quando a função imunológica e os mecanismos de vigilância contra os tumores permanecem suprimidos. Além disso, outras linhas de estudos sugerem que a amamentação também pode estar associada à modulação de longo prazo das vias inflamatórias, imunes ou metabólicas, que podem influenciar no risco de câncer de ovário. O estudo afirma, então, que os resultados sugerem que a amamentação é um fator potencialmente modificável que pode diminuir o risco de câncer de ovário, independentemente da gravidez. Entretanto, os autores indicam limitações pertinentes desse estudo, como o fato de a população avaliada ser predominantemente de mulheres brancas, não podendo analisar suficientemente os detalhes dos padrões de amamentação das mulheres negras, asiáticas, nem dos grupos étnicos minoritários.
Em uma ampla revisão da literatura, os indícios demonstram importantes benefícios da amamentação quanto à saúde da mulher, confirmando-se, também o menor risco de câncer de mama e ovário. O menor risco ocorre tanto para mulheres antes como depois da menopausa. Quanto mais prolongada for a amamentação, maior a proteção para a mãe e o bebê. Portanto, amamente e encoraje o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e procure manter a amamentação até os dois anos de idade ou mais.
REFERÊNCIA:
- Babic, A, Sasamoto, N, Rosner, BA, et al. Association Between Breastfeeding and Ovarian Cancer Risk. JAMA Oncol. Published online April 2, 2020. doi:10.1001/jamaoncol.2020.0421
- https://www.inca.gov.br/alimentacao/amamentacao Acessado em 27 de abril de 2020.
- Rea, Marina F.. (2004). Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher. Jornal de Pediatria, 80(5, Suppl. ), s142-s146. https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000700005 Acessado em 27 de abril de 2020